

Demência Pugilistica
Encefalopatia traumática crônica do boxeador
Caracterizada
A demência pugilística provoca problemas de atenção, memória e concentração, sintomas parkinsonianos, desorientação e dores de cabeça. Com a progressão da doença, percebe-se uma maior irritabilidade, agressividade, confusão mental, má coordenação dos músculos da fala e demência progressiva.




A demência pugilistica é caracterizada clinicamente por declínio cognitivo, alterações de comportamento e sinais parkinsonianos. Do ponto de vista neuropatológico, o achado mais marcante é o de numerosos emaranhados neurofibrilares no córtex cerebral na virtual ausência de placas senis. O objetivo deste trabalho cinematográfico é apresentar uma visão do tema, enfatizando as alterações cognitivas, epidemiologia, neuropatologia, estratégias de detecção precoce e relação com a doença de Alzheimer.
O boxe é um esporte muito antigo, no qual os traumatismos cranioencefálicos são freqüentes e a ele inerentes. Tem, portanto, conseqüências agudas para o sistema nervoso central, como hemorragias, dissecção carotídea ou trombose (Payne, 1968), e crônicas, como a dementia pugilistica (Millspaugh, 1937). Esta última também pode ser chamada de encefalopatia progressiva crônica do boxeador (Critchley, 1957) ou síndrome punch drunk (Martland, 1928) e representa conseqüência neurológica a longo prazo do efeito cumulativo de traumas cranioencefálicos repetidos (Martland, 1928; Roberts, 1969; Critchley, 1957; Mendez, 1995).
Em 1963, Mawdsley e Ferguson examinaram dez pacientes e identificaram também alterações piramidais leves como parte da síndrome. A partir de então, há inúmeros estudos com amostras
de tamanhos variados de pugilistas ativos ou não, em relação à sintomatologia, achados em exames complementares, avaliação neuropsicológica e anatomopatológica e ainda aspectos
éticos e legais do boxe.
Epidemiologia
No pugilismo, os TCEs são responsáveis por dois terços de todas as lesões graves e hospitalizações (Ryan, 1987; Enzenauer et al., 1989). Os dados relacionados à freqüência dos achados neuropsiquiátricos nos lutadores são escassos, pois usualmente são estes que vão à procura de auxílio médico. Além disso, a coleta de dados é quase sempre retrospectiva.
Nessas amostras, espera-se que a freqüência de achados seja alta. Estudo de prevalência realizado em 1969 (Roberts), com amostra selecionada aleatoriamente de 50% do total de 16.781 pessoas que lutaram boxe no Reino Unido de 1929 até 1955, identificou 250 pessoas com suspeita de apresentar alterações neuropsiquiátricas. Dos 224 lutadores que foram examinados detalhadamente, 37 (17%) tinham seqüela neurológica crônica atribuída ao boxe. Destes, 13 (6%) apresentavam encefalopatia pós-traumática do padrão punch drunk, enquanto 24 tinham sintomas semelhantes, embora pouco incapacitados. Os testes neuropsicológicos e
observações clínicas revelaram grave comprometimento de memória em 4% do total dos casos e demência em dois dos 37 casos (menos de 1% do total). Tanto a idade quanto o número de lutas estiveram associados à freqüência das seqüelas neurológicas (Roberts, 1969). Mortimer (1985) analisou três estudos epidemiológicos realizados por Roberts (1969), Jedlinski et al. (1971) e Thomassen et al. (1979) e concluiu que: 1) quando a freqüência de lutas é mantida baixa (uma por mês ou menos) e existe boa supervisão no ringue, a incidência de alterações neurológicas e psiquiátricas significativas é relativamente baixa em ex-pugilistas na
quinta e sexta décadas de vida; 2) entre boxeadores profissionais com longo tempo de carreira, cerca de 17% têm lesão neurológica clinicamente significativa e menos de 5% têm distúrbio de memória acentuado ou demência. Lutadores amadores que têm freqüência similar de lutas parecem ter risco semelhante de lesão neurológica; 3) o grau de lesão parece estar relacionado com o número de lutas e/ou sua freqüência, sugerindo que os déficits resultem, ou de efeito cumulativo de TCEs leves, ou do aumento do risco de TCE grave, que pode ocorrer ao longo da carreira. A freqüência de 5% de distúrbio acentuado de memória ou demência não deve ser
considerada baixa, pois a maior parte dos boxeadores examinados tinha entre 20 e 50 anos.